quarta-feira, novembro 24, 2010

Uma certa conversa...

-Oi?
-Oi!
-Como cê tá?
-Você tem tempo pra ouvir a resposta?
-Tô meio atrasado. Só queria mesmo saber se você tá bem.
-Se quer mesmo saber, as vezes eu até fico bem. E você?
-Vivendo.
-Me ensina?
-O quê?
-A viver sem esse nós.
-Temos que um dia conversar sobre isso. Deixa eu cicatrizar.
-Me ajuda a parar de sangrar então que eu espero.
-Eu preciso mesmo ir.
-É o que você sempre faz. Vai!
-Como assim? Alguns poucos minutos e já julgando?
-É ou não é o que você sempre faz quando eu quero conversar?
-Quando é sobre isso eu realmente não quero prosseguir.
-Isso, mandou dizer que tá bastante fragilizado, mas topa mais algumas doses cavalares de nós.
-Você e seus dramas.
-Você e suas fugas.
-Vai ver por isso a gente se afastou.
-Será?
-Por isso que eu acho que a gente precisa conversar...
-Até o fim ou é pra começar e parar quando ficar difícil pra você?
-Preciso que você entenda: Você significa muito pra mim. E eu estou precisando tanto de você...
-Eu também preciso que você entenda que você faz parte do meu mundo, que eu preciso desabafar e discutir esse nós com você até o fim, e dessa vez você deixando as coisas simplesmente acontecerem...
-Te quero bem viu?
-Te quero como vier.
-Esse nós não tem nos feito bem.
-Essa pausa nossa tem me consumido. Eu sei que a gente volta, só não suporto o silêncio desse espaço no meio.
-Sinto falta também.
-Sinto um bocado de coisas... Boas e más.
-(baixinho) Eu só sinto falta de sentir você...
-O que você disse?
-Disse que a casa sente a sua falta.
-É estranho mesmo não ter acesso livre lá.
-Você tem, sempre terá e sabe disso.
-Você é mesmo estranho, a gente mal se vê. Você nunca está aberto o suficiente para conversar comigo. Se é que está assim agora.Como eu vou entrar naquela casa com todo esse contexto?
-Estou conversando não estou?
-Só até quando não houver pressão.
-Eu não sou assim como você me pinta.
-Eu sei que tende a ser muito mais ou até muito menos do que eu imagino. Você sempre tão trancado me admira muito conhecer tanto.
-E você conhece. Com certeza a que mais conhece, por isso fico triste quando você manipula o que sou a teu bel prazer.
-Sempre estou fazendo besteiras né? E você sempre é a vítima. Será que um dia muda?
-Espero que o amor que sentimos um dia estabeleça uma trégua.
-Espero que você me deixe aconchegadinha no lugar que escolhi pra mim dentro de você.
-Espero que você um dia se mude em mim, e queira ficar num lugar mais nobre.
-Estou em você, e até me confundo as vezes.
-Sinto isso também.
-"O tudo" que eu posso te dar nunca é suficiente pra você.
-Você não quer conversar sobre isso aqui e agora né?
-Não. Quero esperar mais um 8 anos até doer menos. Até deixar de senti. Até que esse nós se acabe depois de uma morte natural.
-Você fala como se fosse trágico.
-Não, não é. É drama, dramalhão barato. É comédia boba. É o que todo mundo vive todo dia entre às 06 da manhã e às 5 da tarde. Porque o que a gente tem já aconteceu tantas vezes né? Com tantas outras pessoas. É um tremendo dum clichê!
-Não quis dizer isso sua boba. É a maior relação que tenho vida.
-No meu caso é a minha própria vida. Porque eu não sei ser eu mesma sem ter você por perto como espectador assíduo da minha vida. Porque as coisas precisam ser divididas, porque pr'eu conseguir pensar melhor eu só preciso poder conversar com você sem amarras sem julgamentos.
-Eu vou estar sempre.
-Será?
-O que eu preciso fazer para você acreditar em tudo que eu já disse e fiz até hoje para preservar o que temos, mesmo que eu não seja a pessoa da sua vida, peça chave do seu plano de família. Mesmo que eu nunca consiga suprir totalmente as minha necessidade de você. Eu quero de você o que vier, o que você me dar. Você entende?
...
-Entendo. Entendo também que você nunca vai parar de cobrar, mesmo sabendo que essa é a única forma de continuarmos, a única forma de dar certo. olha sou eu agora que não conversar, qualquer dia a gente se bate nesse mesmo corredor. Um dia que estiver mais cicatrizada. Tchau.
-Ei, espera! Agora você vai me ouvir. Você não pode ir embora assim sem saber que eu quero ser hoje e por muito tempo exatamente o que eu represento pra você sem cobranças, eu entendo esse nosso jeito de interagir, pelo menos acho que entendo. E aceito, e quero muito viver isso e todas as doses possíveis desse nós.
-Sério? Eu senti tantas saudades... Vem cá me dar um abraço.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Tenho um milhão de coisas pra conquistar e eu não posso ficar aqui parada.

Tenho vontade de aprender tanta coisa que ainda não sei e não tenho a mínima ideia se consigo mesmo aprender essas coisas. E daí? Eu tenho um mundo inteiro baby, depois de você e de suas crises melodramáticas, tenho o mundo inteiro. Tenho tantas pessoas e coisas a conhecer, tantos sabores a provar.
Um mundo que se remonta todos os dias diante dos meus olhos, do lado de fora do meu apartamento minúsculo entulhado de livros e histórias loucas do passado, sonhos pro futuro e um amor de muitas vidas, o meu companheiro amigo-urso. Eu hoje conheço o prazer de dividir-confundir a minha vida com tantas coisas e pessoas, entendo que não possuo ninguém e compreender isso é revelador para um bando de coisa que eu ainda pretendo na vida. E eu pretendo tanta coisa... Não faz ideia.
Infelizmente eu ainda não perdi essa mania besta de escrever sobre isso, sobre esse nós rasgado e sujo, que hoje é tão alheio a você como a cotação do dólar é a mim. Eu te aceito, ou melhor, não te esqueço, não te deixo ir embora porque mesmo sem ter ido definitivamente já me faz a maior falta. E você? Onde está no meio disso que vivemos e vivo? Você simplesmente não está. Se é que já esteve além do corpo presente, uma noite e outra e algumas meias verdades. Mania que eu vou tirar de mim um dia. Porque eu já disse pretendo viver umas outras coisas que estão por aí só aguardando esse espaço que você ocupa e não cuida, não trata e que se depender de você morre. Mas esse você em mim independe de você e é só por isso que existe.
Quero andar de bicicleta por aí sem me preocupar, quero tecer novos planos, organizar as ideias, continuo querendo gritar de dor-de-mundo, ler, ouvir, crer e há tão pouco tempo para fazer tudo isso. Mas eu quero, de algo jeito meio louco, eu vou fazer algumas ou todas essas coisas, no meu tempo, do meu jeito porque você não existe mais, porque você já está de dias contados a muito tempo, você vai de vez. Vai sim.
Até a saudade vai junto. Mesmo que da boca para fora.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Como se grita?

Eu esqueci como se grita. Estou tentando desde o início desse dia atípico, onde estou só eu e minha querida filha felina em casa com o maridão viajando a trabalho, tentando gritar sem motivo o que não faço há um tempo. Eu gritava de alegria, de raiva, de dor, de amor, de ódio, de amoreódio, não aquele grito nojento de ataque de narcisismo, não, era aquele grito de delírio onde nenhuma palavra cai bem só o grito. E eu estou tentando gritar, um misto de sentimentos que estão aqui guardados. Quero gritar de alegria porque mesmo odiando dormir sozinha e com todas os devaneios sobre casas silenciosas estou conseguindo dormir sozinha e segura, sem neuras, sem medos. Gritar também de raiva pelo que foi e não é mais, pela amigo-amor que foi de vez, dessa vez pra nunca mais e com todas as decepções possíveis de brinde no combo. Gritar a paz que eu estou sentindo por finalmente ter me encontrado no meu novo trabalho, por estar gostando da adrenalina que é prestar serviço lá. Assim como adoraria gritar o meu inferno astral por não aguentar mais o meu antigo emprego de meio período que se estende até hoje por medo de virar a página e encarar o incerto e tomar decisões.
GRITAR, Gritar a vida, e todas as realizações desse ano, tudo o que aprendi e que está sendo decisivo nessa minha nova crise de dores-fortes-diárias-insuportaveis. Gritar essa dor que não passa, que não decide onde fica, e que não diz ao que veio. Gritar o meu novo jeito de encará-la com menos lágrimas e mais concentração. A resposta está in não out. E é só minha. Só eu preciso aprender a domá-la, aceitá-la e quando puder mandá-la para longe de vez. A dor sempre vem pra gente lembrar da força que há dentro de nós. Do que somos capazes de suportar e das coisas mais secretas, dos traumas mais poderosos que ainda possuímos.
Eu voltei a viver com a dor diárias de antes. Estou no meio de uma crise dela. Só que mais sábia, mais forte e com mais controle sobre o meu corpo e isso já é por si só um grande feito. Não há cura, e dessa vez sem alopatia e fugas, a dor será vivida, combatida e aniquilada um dia por vez.

domingo, outubro 03, 2010

Porque eu não sei sentir diferente

Não sei dosar, pra mim sempre é tudo ou nunca mais a la Cazuza. Coisa de ariano. Também não consigo pensar do mesmo jeito sempre, reavalio o tempo todo, eu não sei aceitar a apatia. Eu não consigo ser acusada de não ter tentado, sou pessimista aventureira do tipo que nem espera muito, mas, dá a cara pra bater pra ver no dá.
Não sei fingir que não estou com raiva, que não me incomoda, que dá pra deixar passar quando não dá. Eu tenho, por causa de uma vontade que independe de mim, de ser sincera de falar, gritar e interagir até que aquele incomodo passe, até que eu volte a respirar. Só sei sentir por inteiro, tudo que sou sente, tudo que me compõe. Não sei ser metade.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Sobre o encantamento e até a falta dele

Nasci assim. Desde que eu me entendo por gente sou encantada. Amo o movimento das pessoas, da natureza e das coisas. Observo mesmo que nem sempre calada, como tudo funciona sem ordens, sem punições. Mesmo que eu pare, que interrompa o passo, o passarinho sob mim ainda voa, a brisa ainda bagunça o meu cabelo, o sinal abre, o carro segue e eu fico boba-boba de ver tudo acontecer. E mesmo assim encantada com tudo isso, ainda fico assustada por não determinar nada, porque é defeito meu não gostar de perder o controle das coisas. Percebo que sou mais espectadora do meu mundo do que protagonista. Boa parte de tudo que é poético e nobre nas minhas experiências não veem de mim está por aí, pronto, gratuito e livre. Porque os meus movimentos são pensados, mesmo que as vezes nem tanto assim, as minhas palavras precisaram ser de outras pessoas para serem minhas um dia, o ideal de vida que tenho é um misto das minhas observações cotidianas do outro. Sou um "mistura-braba" de lugares, pessoas e pensamentos. Sou o outro mesmo quando tenho total convicção de que estou vivendo a minha verdade. Nunca fui, sempre estive sendo. A única verdade sobre mim que é imutável é o que eu não sou, nem pretendo ser. O resto é metamorfose.
Sou feira dia de sábado, chão sujo, gritos, cheiros e sabores. Sou a intensidade do que eu vivo, do que leio. Das minhas observações tiro as minhas felicidades cotidianas. Meu jeito de ver a vida muda todos os dias dependendo do humor que tenho quando acordo, isso me mantém no pique para suportar a vida que levo atribulada com tanto trabalho. Tenho dias de pânico, onde o sofrimento alheio me doí muito e eu me sinto pequena e fraca. Tive isso no ônibus outro dia, chorei copiosamente por não possui as minhas próprias respostas, quanto mais o que faz tanta gente sofrer de tantas formas. As vezes acordo boba admirando o silêncio que eu quase nunca me permito vivenciar, saio de casa com raiva da chuva, me irrito com o ônibus cheio, chego no trabalho e faço todo mundo rir pra não enlouquecer de tédio. Almoço na rua. Vou para o segundo emprego e tento não dá com a cara no monitor de tanto sono. Volto pra casa num outro ônibus cheio ouvindo música e cantando baixinho. Visto o casaco, fecho o guarda-chuva e desço do ônibus uma quadra antes de casa pra aproveitar a chuva.Tem horas que me pego pensando que eu não tenho a mínima ideia de onde essa inquietação e esse encantamento vai dar, ou o quanto ele vai durar.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Sobre o que me compõe

Entendi depois de muito tempo que nem todo amor tem que ser vivido até o osso. Que alguns amores podem ser guardados, e até ficam melhores com tempo, desde que de vez em quando você o visite. Porque sempre tive problemas para distanciar-me, tornar-me inatingível ao encantamento que comove nos olhos dos que merecem amor. Sempre amei aos montes, mesmo ouvindo que isso não era possível. Que não haveria espaço dentro de mim para tanto. Consegui provar para mim mesma que eu posso alojar todo o amor que existe em mim nos meus cantos, mesmo que as vezes se misture com minhas entranhas, que eu me confunda um pouco com os espaços vazios que ainda existem. Mesmo que um dia eu me torne só amor, eu corro o risco e amontoou.
Amontoou pessoas, histórias, ex-namorados, irmãos, amigos e até um pouquinho mais, palavras, músicas, autores e livros. Amo a ideia de ser caixa vazia, de não possuir divisórias e poder suportar qualquer tamanho. Qualquer entrega. Quero continuar defendendo com atitudes e gestos - sutis-ou não - que o amor pode ser redimensionado.
Que o amor para ser vivido tem que ser compreendido em sua essência e tudo começa com o respeito. O respeito é a base de qualquer tipo de amor - mesmo que seja clichê é a grande verdade - que o amor redimensionado pode ser remédio para curar passado doído, pode ser alicerce pro futuro desconhecido. O amor nunca é à toa. O amado da gente (seja o que/quem for) é pra sempre da gente, daquele jeitinho particular que a gente criou, internalizou e desejou que fosse. Porque também há essa possibilidade: de o amor não ser o que a gente vê. Não é obrigação do outro, nem nós mesmos podemos ser coagidos a tornarmo-nos o que o outro espera da gente.
O amor veem dentro de um caminhão desenfreado, ou da sutileza da brisa da primavera e nunca do que a gente espera. Do que nós pensamos que o diferencia. O amor é alheio e ainda sim parte de nós de uma maneira inexplicavelmente intensa.
Não sei explicar como todas essas pessoas e coisas tão especiais e significativas vivem amontoadas dentro de mim, da mesma maneira que eu não saberia explicar porque não consigo viver sem todas elas. O amor guardado, o amor vivido até o osso, o amor de irmão, o amor interrompido, o redimensionado, todos eles se fundem e me compõem. Eu sou o amor, o resto são só ossos e entranhas. E claro, eu só existo sendo palavra mais aí é outra história.

terça-feira, agosto 31, 2010

No casulo.

Estou aprendendo, através das consequências das minhas decisões, coisas que a vida nunca me daria de graça, sem a obrigação do ganhar aqui-perder ali mais adiante. Tranquei a universidade, ou melhor, - fui verdadeira comigo mesma e parei de passar a noite sentada no banco em baixo da árvore em frente a didática II - porque eu já nem conseguia mais acompanhar as aulas. E essa decisão me levou a muitas conversas acaloradas, julgamentos de pessoas muito queridas, broncas e ameaças. Na verdade a ninguém que eu conto que tranquei a informação passa sem um comentário pesado e cheio de máximas ridículas sobre seguir com a maré.
Engraçado isso vir de pessoas que me conhecem tanto e que sabem que eu não sei fazer isso. Não sou capaz de simplesmente seguir a fila. Mesmo que eu um dia eu me arrependa, que eu esteja perdendo a "oportunidade de me formar com a galera" - que galera mesmo? Se eu não consigo me ver fazendo parte daquilo! - essa decisão foi a mais acertada dos últimos tempos. Consegui restabelecer uma conexão comigo mesma que a tempos estava perdida, isso de me sentir in, não out, tem me feito TÃO bem.
Ficar sozinha em casa a noite lendo um livro, dormindo, comendo, lavando roupa, sonhando, planejando, ruminando passados distantes tem sido tão agradável quanto. Na verdade nem se compara.
Já ouvi tantas coisas sobre isso, tipo: "A mulher moderna FLávia estuda, faz graduação, pra ter grana pra pagar alguém pra tomar conta da casa e dos guris". Já ouvi gente que eu respeito muito enfiar o pé na jaca falando com um preconceito burro de quem nem para pra pensar no que acredita de vez em quando. Essa decisão que já foi tomada só diz respeito a mim, ao que eu preciso no momento.
Cada dia que passa onde eu aprendo a ficar mais tempo calada, apenas ouvindo meus pensamentos, meus desejos mais íntimos, meus sonhos reprimidos, o meu ideal de vida eu aprendo mais sobre mim, sobre o meu lugar no mundo e principalmente de qual grupo de pessoas eu não faço parte.
Esse tipo de amadurecimento não vem com a idade não. É necessidade para alguns.
Pra um bando de gente eu sei que é.

sexta-feira, julho 23, 2010

Me aqueça. Me vira de ponta-cabeça...*


"Eu não quero ter vergonha de nada que eu seja capaz de sentir."*

Há algum tempo atrás compramos juntos um casaco pra mim. Adorávamos ir juntos comprar qualquer coisa. Andar, discutir, conversar, resolver... lembro que no mesmo dia eu passei 40 minutos tentando convencer-te que eu merecia aquele par de "pantufas arco-irís de cano-alto" para combinar com o meu jeito desleixado de rodar pela casa a noite por causa da insônia. Depois o chopp e o papo descompromissado de fim de tarde, e nenhum indício que aquela seria uma das nossas últimas conversas... Sinto tanta falta de ver-te, de conversar sobre qualquer coisa. Tenho recebido umas ligações desconhecidas, não dizem nada, seria tão bom se fosse você do outro lado da linha, se do nada falasse como se não houvesse todo esse tempo e distância entre nós. Porque para as minhas lembranças esse tempo realmente não há.
Mesmo que todos digam que acabou. Que não há mais a amizade de antes, que não faz sentido esperar, sabe, eu ainda espero, espero que o interfone toque avisando que você está na portaria e veio me fazer uma surpresa, mesmo que eu saiba que você não sabe meu novo endereço. Na verdade você ignora esse meu novo endereço, essa minha nova vida.
Eu espero um email longo contando novidades, mesmo que eu também saiba que você não é muito dado a emails e conversas virtuais. Eu fico esperando de você coisas que eu sei que não virão, é porque eu já cansei das suas obviedades, do seu "eu previssível" e queria tanto conhecer um novo você cheio de vontade de mim, quase como o você de antes o da compra do casaco, da discussão das pantufas, do chopp, o você que eu deixei dormindo num colchão no chão da casa da Manuh depois daquela noite de Rua da cultura.
Que aquele casaco não significa um adeus, um acalento concreto, um não a amizade que tinhamos, que não existam significados velados.


*Rita Lee
*Caio Fernando Abreu

quinta-feira, julho 01, 2010

Os caminhos são individuais/ intransferíveis*

Comecei a pensar no início dessa semana, nessas dependências que a gente acha que tem, e na imaturidade de agarrar-se a elas. De como é simples colocar a culpa no "companheiro do lado" por uma decisão errada, por um arrependimento, por um não, por um sim entre dentes, por um mundo desabando e todas aquelas vezes que a gente só quer sair correndo sentar debaixo da mesa e chorar, pequenininha segurando os joelhos. Se eximir da culpa não é compartilhar.
Com o nosso companheiro a gente dividi os dias, os acontecimentos, as histórias, as coisas simples, um conselho, uma decisão tomada, uma opinião. Porém no fim, quando é sobre o nosso íntimo, sobre o que somos o caminho escolhido é ,apesar de muita conversar sobre (com qualquer pessoa), uma decisão só nossa. Tem que ser só nossa. E isso também deve acontecer com o nosso companheiro, com nossos pais e amigos.
Eu amo muito quem me acompanha. E isso não é uma novidade, mas só isso não diz tudo que ele representa para mim. Outro dia num fim de tarde tive vontade de ligar para ele para declarar-me diferente, eu queria ligar e só dizer: Eu te respeito muito! Assim sem grandes explicações, sem mais... Aquilo de respeitá-lo era tão sagrado pra mim, tão nobre e bonito.
Eu o respeito muito, essa é uma grande verdade. Respeito o sentimento que ele tem por mim sem exigências e metas, o caminho que ele segue para formar o ser que ele quer ser, construindo-se dia após dia, as suas vontades e desejos porque eles também fazer parte da pessoa que ele é, os seus planos individuais e os que ele divide comigo, suas preferências, seu caráter e sua ideologia. É só assim, entendendo que respeito tudo isso e outro tanto de coisas, que consigo dizer o "Amo'cê" diário com o coração livre de dúvidas e em sua completude de razões.
Amar por amar, todo mundo ama (diz que ama), porém, será que todo mundo respeita o outro e quem ele é? Será que me respeitam?
Só posso falar de mim e eu exercito todos os dias o meu respeito ao próximo. Principalmente aos muito próximos.

*Caio Fernando Abreu

quarta-feira, maio 12, 2010

Gosto.

Gosto de ouvir IRA! pra matar saudade de amigo distante, principalmente em dia chuvoso. Gosto do vento da janela do ônibus que bate no meu cabelo. Gosto de visita surpresa para bater papo inesperado. Gosto do inesperado. Gosto de conversas que nunca acabam. Deveria não gostar tanto, porém gosto de relacionamentos suspensos. Gosto de amar pra sempre e de não conhecer o desamor. Gosto de criança. Gosto de adulto. Gosto das minhas amigas meninas-mulheres-pra-sempre. Dos meus amigos homens-meio-mulheres-sentimentais-sem-rémedio. Gosto de beijar o mesmo menino-homem todos os dia a quase 5 anos. Resumindo gosto de gente.
Gosto de intervalos. de sonhar em conjunto. de não realizar e sonhar 1 milhão de coisas depois. de pintar. de palavras. de intensidade. Gosto de ler, ou melhor amo. Gosto de conhecer gente através de palavras. de gente que domina palavra. de internet, da possibilidade. Gosto de mudar. Gosto de por instante não ser. Gosto de permanecer. Gosto de poder escolher, não dá escolha propriamente dita. Gosto de sorvete. Gosto de comer e pronto, não dá pra classificar. Gosto de ficar quietinha. Gosto de pegar a bicicleta e sair sem destino. Gosto de longas caminhas. de movimento.

gosto de tanta coisa que no momento não tenho tempo pra fazer...

sexta-feira, abril 23, 2010

Tentado colocar ordem aqui dentro.

Sinceramente, não pretendo ficar me desculpando pela minha racionalidade. É desse jeito que 'momentaneamente' eu estou vendo o mundo. Não quero pedir desculpas a ninguém no momento, e não é porque eu tenho dificuldade de pedir desculpas, porque eu não tenho MESMO, só não acho que devo no momento fazer isso. As vezes tenho a sensação que as pessoas me apontam, falam sobre mim pelas costas, estão me olhando e julgando. Pessoas que me conhecem, claro, não estou 'ainda' tendo um surto psicótico, sinto que os meus amigos tem me omitido coisas. E eu não gosto de omissão.
Eu sei que ando por aí me arrastando pelos cantos, sei que tenho ficado sozinha demais, que quando falo muitas vezes devaneio e sou cruel, sei também que eu tenho racionalizado tudo e que as emoções - meio que tiraram férias -, porém vejam bem, no meu último tombo feio (do qual ainda me recupero) eu não estava racionalizando as coisas - puta-que-pariu foi um tropeço do caralho - e tudo isso aconteceu porque eu estava muito envolvida 'como-só-eu-sou-capaz-de-fazer' sem calcular em que altura exatamente eu estava rodopiando de olhos vendados.
Não sou de defender a frieza, não acho que é o melhor caminho calcular tudo, ponderar sempre, quem me conhece sabe, gosto das coisas feitas por impulso, me apaixono sempre e por quase todo mundo que tem brilho no olhar, só que o tempo não está bom pra sair e tomar banho de chuva, não está bom pra se apaixonar pelo brilho de ninguém.
Eu estou organizando as coisas aqui dentro novamente, estou tentando achar um cantinho estratégico onde eu possa colocar uma jaula pra trancar essa minha mania de ir tão fundo nas pessoas, de deixar que elas entrem em mim e me conheçam a ponto de me sabotar. Eu preciso me proteger de mim, colocar essas minhas emoções intensas de castigo até segunda ordem.
Preciso digerir e ao mesmo tempo de algo que me entretenha durante esse período. Preciso também não enlouquecer remoendo essas coisas que me doem tanto.

A verdade mesmo é que preciso dar um tempo nesse livro que ainda me deprimindo assim.

sexta-feira, março 26, 2010

Sem dúvida alguma (momentaneamente claro!)

Mudei de vida, será? Não.
Mudei o jeito de ver a vida e consequentemente de vivê-la. Tenho preocupações que antes não tinha, afazeres, obrigações e um monte de coisa que deveriam ser bem chatas e não são. Não são porque eu me preparei para elas, foi no tempo certo, na hora que eu quis assumir essas responsabilidades, não porque fui obrigada a fazê-las. Vivo dias curtos, e ainda sim muito felizes, vivo num lar de respeito ao outro, de cumplicidade mútua, de admiração, de amor. Vivo com quem escolhi viver, e faço o quero sem barreiras e cobranças ridículas, no meu tempo, como deve ser.
Sendo assim, estou/sou muito feliz vivendo a vida que escolhi viver, compartilhando do jeito que escolhi compartilhar e com quem escolhi. E sobre isso não há dúvidas. Caramba?! Isso sim é assustador eu que sempre duvido de tudo sempre, ando não duvidando de muitas coisas...

quinta-feira, março 11, 2010

Sobre o pseudorelacionamento com o menino-bobo-dos-sonhos ou Vivendo e aprendendo a jogar

Uma vez eu conheci um cara, amigo dos amigos de anos, no lugar de sempre. Mas naquele dia ele era diferente, como se nunca eu estivesse ido lá, visto aquelas pessoas e sentido aquelas coisas. Porque quando eu me iludo, dou um olê em mim mesma. Porque quando eu começo achar alguma coisa, eu devaneio.
Então aquele menino com cara de sujo, de poucos amigos e esquisitão, ficou tão lindo refletindo nos meus olhos e tudo que deveria ter feito com que em me afastasse acabou virando charme. E uns amigos diziam, não se mete com ele, ele é mais problématico que você. E eu quase suspirava alto.
Eu sonhei dias, noites, muito muito tempo com ele. E se dividi horas com ele foi muito. Claro que pra mim foram eternas, claro que eu via estrelas no céu, parecia feriado, festa na praça central era o que eu queria sentir. E era o que sentia.
Eu amei sozinha, achei que nunca mais aquelas lembranças se tornariam brandas, eu que nunca consegui gravar muito dos outros tinha a imagem dele tatuada na minha retina. Como esse amor não correspondido me ensinou. Muito mais que os vividos intensamente antes dele. Lições para a vida toda.
Aprendi que o amor nasce em mim, pode crescer e enraizar no outro ou não. Que ninguém é obrigado a amar o outro por pena. Que mesmo que o encontro seja lindo e pareça final de filme de sessão da tarde o outro alguém pode não se comover como você. E o principal, aprendi que a felicidade não depende da realização de um sonho lindo de amor-eterno-com-um-desconhecido-bem-posicionado, a felicidade a dois surge depois que a pessoa envolvida e conhecida, internalizada, compreendida e respeitada. E na minha relação com esse menino-bobo-dos-sonhos nunca existiu respeito.
Demorou muito pr'eu poder visualizar esse pseudorelacionamento desse modo. Precisei de experiências concretas que derrubaram aquelas paredes tão fortes que eu crie em volta dele. De alguém que trouxesse algumas sementes e plantasse um imenso e lindo jardim.

terça-feira, março 02, 2010

Percebi.

Eu sou feliz. Dei-me conta disso às quatro da tarde de um dia chuvoso, por ter amado a todos com tudo que podia, por ter ido até onde nem os meus olhos alcançavam, por ter dado até aqueles restinhos de amor que ficam nos cantos. Hoje sei que dei o que era necessário. Nem mais, nem menos, nem.

Amei cada um como se fizesse uma oração por todos juntos. Em cada pôr-do-sol de tirar o fôlego. Em cada amanhecer na praia. Todas as vezes que inesperadamente quase pisei numa flor que surgiu no meio do caminho como uma espécie de presente, agradeci os instantes divididos e inesquecíveis.

Desde pequena, sempre que eu me sinto muito feliz, sempre que sinto aquele cheiro mágico de momento único no ar, faço uma panorâmica. Tento reter tudo que pode me fazer lembrar dali a muitos e muitos anos aquele instante que não viverei mais. Eu nunca consegui aceitar sem queixas que um dia eu esquecerei tudo. Como minha avó que no fim da vida não era capaz de pronunciar palavra alguma nem lembrava de ter feito isso um dia ou a importância que isso tinha.

Como poderia esquecer todas as conversas reveladoras que tive, todos os amigos-irmãos de alma, todos os amores inesquecíveis. Como?

Como poderia ter vivido essa vida sem ter amado a todos que amei, sem ter vivido tudo que ela tinha para me oferecer. Dos presentes que essa vida me proporcionou o que foi mais delicioso viver foi o amor. Todos os tipos. Aqueles que surgiram da admiração mútua. Aqueles que transbordaram da amizade. Aqueles que só tinham explicação na carne. Aqueles que só existiram nos sonhos. Os que surgiram sutilmente. Os avassaladores. Aqueles que sem os quais a vida não faria sentido. Aqueles que depois de tudo deram sentido a minha vida. Eu fui o amor. Eu sou.

Principalmente o amor que dedico à palavra. E toda a emoção que ela me dedicou por toda a vida. A minha maior devoção. A única.

Amei. Amigos. Idéias. Livros. Telas. Filmes. Fotografias. Movimento. Dança. Música e músicos. Autores. Completos Desconhecidos. Noites. Dias. Tardes. Segundos. Amei quase sem querer tudo que passou pelos meus olhos, tudo que por mim foi pronunciado. Tudo que faz com que o amor ainda exista em mim.

Peço à força que movimenta o mundo e proporciona tudo, que eu não perca as minhas lembranças quando a velhice me encontrar. Que as lembranças que as pessoas que convivi possui de mim não sejam descartadas quando desaparecer, elas são a minha própria vida. Que as palavras não me abandonem nunca. Que os amigos-irmãos-de-alma sejam eternos. Que a alma para sempre transborde de amor, para que cada dia eu ame mais e mais mesmo que isso me deixe um pouco zonza, confusa, e com os olhos cheios d’água. Mesmo que...

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Música inesperada.

Tenho mania de chegar em casa (vindo de qualquer lugar) ligar o som e ouvir o rádio, no momento a rádio UFS 92.1 que sem dúvida é a melhor rádio de Aracaju-SE. Isso mesmo eu ouço rádio. Mesmo possuindo mais de 15 Giga de músicas em mp3 no notebook eu ligo o som e escuto o rádio.
Fico jogada na cama ouvindo a música que a surpresa me doará, gosto de ouvir música-querida assim como quem não pretende, a mensagem toma um novo gosto e acaba me arrancando muitas vezes um sorriso bobo e umas lágrimas inesperadas idem.

Ouvir música-querida inesperada é tudo de bom!

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Prefiro não rotular

Eu tinha o que alguns chamam de amizade perfeita. Eu prefiro chamar de completude. Graças a uma força maior que desconheço, tenho algumas amizades perfeitas parecidas com essa que perdi, porém, nenhuma dessas me faz sentir menos a falta que ela me faz. Quais os motivos para o fim? A sociedade. Estranho né? Mas nesse caso foi. Essa mania besta que as pessoas tem de generalizar para achar o nome certo para as coisas, levou meu amigo embora. Quero deixar bem claro que eu nunca - principalmente agora depois que ele se foi - eu nunca tentei achar um nome para o que a gente tinha. Porque qualquer palavra já existente não caberia para o que tinhamos, nem se eu inventasse uma nova palavra para conceituar, ela ainda não diria tudo que essa amizade me disse com: troca de olhares, cumplicidade, amor (porque não dizer?), sinceridade e aquela magia que liga pessoas por aí - todos os dias que ela existiu. Eu tinha um amigo (um ex-namorado muito próximo e meio estranho como preferiram rotular) mas ele foi embora. Mudou-se da minha vida, da vida que a gente dividia quando estavamos juntos, para um outro lugar provavelmente sem o mesmo brilho que eu não sei onde é. Eu tinha um amigo cheio de defeitos; cheio de manias que me enlouqueciam, de cobranças sem lógica e ciúmes de irmão que me fez perder a cabeça e discutir feio várias vezes, mas nunca em nenhuma de nossas conversas acalorodas me fez esquecer o carinho sem pedidos, daquele abraço de urso, do ouvido que adorava minhas abobrinhas - e o mais incrível, que entendia todas elas - que só ele tinha. Das conversas da madrugada, dos passeios não programados de qualquer hora, das risadas e daquela cumplicidade que nem se comenta. Sim ele tinha defeitos que me enlouqueciam e me faziam gostar mais ainda deste "não-saber-porque-tanto-gostar-de-alguém-tão-irritante" que me deixava maravilhada em todos os dias. Mas esse meu amigo não quer mais dividir coisas comigo. Porque em algum momento que eu não sei bem precisar, eu ou ele, até os dois, ficamos meio assustados com a pressão do mundo com suas nomeclaturas e talvez tenhamos desistido. De quê? De defender o direito de amar e ainda sim não ter necessidade sexual alguma pelo outro. Como em o conto Os sobreviventes de Caio Fernando Abreu, nós tentamos algo mais a algum tempo atrás e não era bem isso que a gente precisava pra ficar junto. Faço-me clara? Nós só queriamos viver, compartilhando momentos algumas vezes, nos divertindo como amigas mulheres "não lésbicas" fazem. Ter o direito de não ouvir piadinhas, indiretas e até broncas mesmo de quem nem tem noção como amizade perfeita pode ser. Mas infelizmente nessa vida, essa minha alma-irmã tão querida e eu desistimos por puro cansaço de lutar contra essa tortura cultural desumana de rotular tudo e todos sempre. E olha que eu não fujo de briga.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Considerações sobre a liberdade

Sempre tive a sorte de ser livre, e só quem é livre sabe como a liberdade mete medo na gente. Ela nos transporta para um lugar tão instável, que as vezes por exemplo, num relacionamento a liberdade de ir e vir te faz pensar em só por um momento não querer ficar, e no instante seguinte te lembra que se for não há volta, que não é correto usar ao bel prazer o direito de ser livre e acabar destruindo o certeza dos outros.
Isso porque a liberdade acarreta ainda mais responsabilidade do que a "não liberdade", por um motivo lógico, quando não há direito de tomar decisões e só simplesmente acatá-las, não há a responsabilidade da decisão tomada. Não há o que pensar, o que antever, o que analisar, o que proteger, até porque a atitude tomada não dependia da pessoa que a tomou, porém, quando a atitude depende só de você para ser tomada e principalmente quando ela não muda o rumo só da sua vida, quando o direito de escolha e seu e ainda sim envolve a vida do outro, aí sim, a liberdade é posta a prova. A verdadeira liberdade, a liberdade de coexistir em harmonia, a de tomar decisões sábias e preocupadas com o rumo do que há de vir e com as pessoas envolvidas. E é sobre este tipo de liberdade que estou falando, e essa liberdade que agora eu tento entender, a tempos vejo essa liberdade sendo corrompida, usada com maus propósitos e contra as pessoas e não a favor.
Isso de ser livre que até parece coisa bem sutil nos dias de hoje, onde não existe repressão política e AI5, é uma coisa tão poderosa, tão definitiva e porque não dizer engajada se fosse usada da maneira certa.
Não é porque você tem o direito de tomar suas próprias decisões que você pode simplesmente ignorar o que é o melhor a se fazer para todas as pessoas que estão envolvidas nelas.
Não é porque você pode decidir em acatar ou burlar uma lei que você tem o direito de atingir o outro com essa decisão.
É por causa de pensamentos como esses que ainda hoje há acidentes terríveis por causa de motoristas alcoolizados, que cesáreas são marcadas sem levar em conta a mãe e nem o que é melhor pro bebê, que crianças não são amamentadas e que crianças cada vez mais novas são alfabetizadas sem maturação para isso. Isso acontece porque a responsabilidade com o outro não foi levada a sério, quando se toma uma decisão isso de "ser responsável pelo outro" vem em primeiro lugar.
Principalmente em dias como esses onde a liberdade já deveria ter sido internalizada com consciência.