terça-feira, maio 28, 2013

O nosso encontro. Conhecendo a pequena cria - ou redescobrindo-me.

Não, eu não sou fácil, nem pra mim. Manter a cuca fresca e a coluna ereta todos os dias é um exercício pesado, cansativo e desgastante. Porque sempre tenho que saber o porque, o como e o quão honesto comigo mesmo o que estou fazendo/ pensando/ querendo/ consumindo/ sonhando é.
Cansa avaliar, defender, protestar, discutir por tudo sempre, mas eu não sei não ser, entende? Eu tenho avaliado a vida nesses dias assistindo a minha pequena cria desbravar os seus primeiros movimentos fora da minha barriga, tão disponível a apreender tudo de mundo que eu ofereço todos os dias. Já é tão forte defendendo seus pequenos direitos comer, dormir, carinho, afeto. Sem aparentar insegurança ela olha pra mim bem no fundo, e eu digo internamente como um mantra todas as vezes que recebo aquele olhar: eu te aceito, te respeito e te liberto.
Foi assim que eu imaginei a nossa estrada juntas como companheiras, parceiras na vida. Somos iguais e não superior e inferior. Somos ambas humanas com suas estradas a caminhar, talvez eu só tenha mais passos percorridos, mais dias guardados na memória, mas a pequena tem a sabedoria dos que não perderam a conexão com o nascer, não possui o medo de não agradar o outro, não foi contaminada com o lado negativo de viver em sociedade e com certeza tem muito a me recordar.
E assim como a Olga todos os dias desbrava a vida, gritando quando necessário, calando quando convém eu vou recordando através dela a segurança de quem nasce cheio de respostas, memórias e sobrevivência. E tudo se tornou tão pequeno, tão grande, se é que pode ser assim. Fui entendendo histórias antigas, questionando coisas e vivendo nostalgicamente uma nova perspectiva e serei eternamente grata a Olga por isso.
Fui me reapaixonando por mim, pela mulher que as poucos se renova, agora mãe, fui me despedindo do cordão que me ligou a ela todos esses meses, aos poucos vou dando adeus a barriga que carreguei, vou aceitando as cicatrizes desse processo e digerindo esse vivência tão intensa que eu vivi tão rápido e ainda falta tanto a digerir.
Agora somos duas e eu tenho que aprender a lidar com isso. Mesmo não sendo fácil ser eu, mesmo não sendo fácil conviver comigo, creio que juntas podemos achar um caminho possível para seguirmos, quem sabe de mãos dadas ou só apenas uma ao lado da outra. O que importa é que estaremos juntas nos conhecendo e seguindo em frente exatamente como esse encontro começou.

segunda-feira, abril 29, 2013

Carta para a pequena Olga


Pés no chão e guria na barriga. E a vida não é mais como era antes. A moça/ mulher que peita tudo que eu sou, agora vai mais devagar para não assustar a cria. As dores, companheiras de longa data, que eu mantenho, que eu cultivei durante anos perderam parte do espaço que ocupavam em mim porque a menina é tão forte, tão decidida que ocupa quase todos os meus cantos. 
Construí essa barriga, defendi um gestação livre com unhas e dentes. Defendi meu corpo, o corpo da minha pequena e cá seguimos nós vivendo de instintos. Nós somos livres minha pequena, até onde nós podemos, nós somos. Eu caminhei por sombras e enfrentei dúvidas e temores todos os dias, porque você ainda não sabe, porém para te dar um nascimento digno eu virei gladiadora, eu comprei brigas, fechei portas, disse não, crie mais um monte de dúvidas, me abri para o que é subjetivo demais e me entreguei, só porque você merece, só porque vale a pena me entregar por um motivo tão nobre.
E eu sinto você se arrastar para luz, para a nossa luz e está cada dia mais perto o grande dia, o dia que viveremos juntas a dor de nascer e renascer, uma dor que nem eu, nem você conhece, mas quem disse que não estamos dispostas? Quem vai dizer que não estamos prontas? E quando você chegar, nem consigo imaginar o brilho que esse dia terá, o que será que vai passar na minha cabeça no minuto que você vier para os meus braços. Também não consigo imaginar nada que você possa me dizer com seus olhos e primeiros movimentos, como será alimentar você ou só acolhe-la sobre o meu ventre.
Só te prometo uma louca viagem lucida. Um milhão de tentativas de fazer o melhor, alguns muitos rodopios pela sala, uma pergunta maluca aqui e ali, uma mãe humana, uma pessoa em construção caminhando ao seu lado e disposta a ajudar você a se construir também, mas lembre-se minha pequena não há pressa, estamos aqui para aproveitar a viagem e não só para fotografar os lugares, não só para conhecer pessoas, coisas e comprar lembrancinhas. Eu estou construindo essa história há algum tempo sem você, mas quem garante que eu conheço mais? Ou que eu já aprendi o suficiente? Estou aberta, inteira, disponível para você o quanto você quiser de mim em todas as fases, porque é assim que eu sinto você em meu ventre, inteira, disponível e disposta a vir ao mundo pronta para aproveitar a viagem. Então vem Olga Martila porque eu também estou pronta e disposta a te acompanhar.

terça-feira, março 19, 2013

Menina.

Não quero escrever sobre os passos que eu já dei nessa vida. Porque eu piso forte na terra, porque eu me represento através dessa decisão de sempre olhar e andar para frente, ir. Sobre os calos e a poeira por toda parte, no momento eu não quero sentir, reviver. No meu presente, andando quase não consigo ver meus pés, é que tem uma menina na frente. Uma pequena que chuta forte no meu ventre como se quisesse andar pra frente mais rápido que a mãe. Não poderia descrever sobre esse turbilhão de sentimentos e pensamentos que me rodeiam, é tanto querer e sentir que me transborda. 
Acho que isso de gerar e cuidar de um ser novo, pesa nas minhas lembranças de infância, porque eu não fui uma criança fácil, nem foi fácil ser criança dentro daquele contexto. E ainda sim eu andei para frente, mas será que esse era mesmo meu caminho? Será que vez ou outra eu não deveria sentar num canto e sentir tudo de algumas vivências? Eu não pude, sentar e sentir algumas coisas com calma. Algumas vivências eram duras demais. 

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Ainda não estou pronta.

Não estou pronta, não sou a paz e o centramento que mentalizo tantas vezes ao dia. Ainda não consigo dar de ombros ao que me incomoda e ignorar o que não pode ser mudado, sabe, é que eu nasci com o bichinho contestador nas veias e não sei ignorá-lo. Essa coisa cansativa de medir palavras, ponderar e omitir para não magoar os outros, para não desagradar os outros eu não sei manter. Confesso, que quando eu abraço alguém bem apertado, quando falo sem meios termos que tive saudades, que estou magoada, que não concordo é sempre o mais sincero, honesto e carinhoso jeito que eu sei agir. Não minto para agradar ou não magoar alguém, crio um afastamento, saio para respirar profundamente em outro lugar, questiono a minha opinião, reavalio as minhas ações e acredite isso é muito mais difícil e dolorido do que não concordar e sorrir para satisfazer. 
Ainda não sou capaz, ou não me decepcionei com a vida o suficiente para não acreditar em meus próprios devaneios, para deixar de defender opiniões individuais. Não sei ser menos intensa e explosiva, por pura incapacidade não sei viver as coisas sem usar todas as partes do meu corpo. Eu lutei para ser inteira e não sei mais particionar.
Da mesma forma que ainda não consigo dizer certas coisas, ainda não entendo questões antigas, não consigo me livrar de medos infantis, não tenho fôlego para tecer certas conversas e não deixo de ruminar coisas. Estou ainda construindo, não tenha pressa. 
Algumas pessoas nunca vão me conhecer, nem em partes. Algumas para sempre terão apenas superfície. Outras levaram a minha carne, pedaço da minha essência, que será partilhada e tudo isso nem sempre será escolha minha. É que eu não sei algumas coisas. Não conheço tudo. Nem sempre ganho quando jogo. Nem sempre estou animada para jogar. As vezes só tenho vontade de sentar na margem do rio que nunca mais visitei e recarregar as energias. Tem dias que dá vontade de fazer um chá e ver o sol sumir devagarinho da janela do quarto mesmo que eu ainda não seja capaz de me encontrar no silêncio, mesmo que eu ainda não esteja pronta, eu sigo. continuo. persisto. 

segunda-feira, janeiro 14, 2013

Tudo novo de novo

Ando em outras ruas, leio outros livros e não convivo mais com as mesmas pessoas. Sabe, eu não existo mais para você e nem daquele jeito. Estranho dizer isso, sentir isso de forma tão reveladora. Agora é tudo diferente e isso não é bom nem ruim como um todo, sinto que nos transformamos internamente, fechamos portas, vá lá eu as fechei. Eu ignorei os medos e as barreiras, todas, e dei as costas ao que não me cabia mais. E finalmente vi você fazendo o mesmo.
E não é triste como eu imaginava que seria, porque estive me preparando para isso nos últimos tempos. Construindo essa ruptura. Desatando esse nó, que tantas veze ajudei a embolar a linha. Não existe mais nó nos atando, eu e você ou algo que represente isso. Estamos sós novamente, tudo novo de novo, mesmo que seja velha essa crença besta de que isso é uma ruptura definitiva. Talvez isso de ser definitivo não caiba em nós, mas quem dirá? Eu levo em frente esses novos caminhos por sentir vontade.
E ver as costas daquele velho casaco de couro seguindo sem olhar para trás representa que é recíproco.

domingo, janeiro 06, 2013

E acabou.

Tanta coisa aconteceu no meio do caminho 2012 acabou e eu voadora que sou ainda estou aqui contabilizando e analisando o que foi vivido. Não pude, não quis perder metade do mês de dezembro tentando entender o que vivi esse ano. Na verdade esta é uma nova fase onde não mais dou tanta atenção, ou melhor dedico tanto tempo a remoer a vida, tenho dedicado os dias, as horas livres a acarinhar a barriga e acolher a bebê que gesto. E assim vivo mais dias tranquilos e calmos que antes. E assim penso menos no que não tem conserto, no que andei perdendo nos últimos tempos e sobre os golpes que andei levando da vida ultimamente.
Acho que tentaram me convencer esse ano que o meu jeito de interagir com o outro é errado, digo tentaram, é porque fui colocada na parede algumas vezes e por diferentes pessoas, em diferentes fases deste ano com as mesmas questões: porque porra eu me entrego tanto. É, não soube responder essa pergunta em nenhuma das fases, não sei falar sobre isso agora também, porque é algo que não percebo que faço, que não me incomoda ou me machuca, o que eu quero dizer, é que não é algo que eu quero deixar de fazer mesmo que tenha recebido tantos conselhos para parar. Gratidão pessoas. Mas eu prefiro permanecer, continuar. Mesmo que isso ofenda tanta gente, e esse ano eu tive ideia desse número.
Não tenho certezas, tem um tempo que eu vivo sem elas. Não me falta dúvidas e questões, mas isso sempre existiu aos montes dentro da cachola. Não sei passar batido diante das coisas, não sei repetir opiniões, não questionar as coisas que aprendo, que me interessam. Gosto de perceber que fiz muito isso esse ano, me dediquei a abrir o campo de visão diversas vezes e por causa dos mais variados motivos. E a terapia só fez isso se tornar apenas mais leve, a terapia veio para substituir, ou pelo menos amenizar a falta do papo descompromissado, sem limites, que eu tinha sempre e não tenho mais.
É eu acho que entendi muita coisa esse ano, conquistei muita coisa interna e sem valor material que me encheu o peito de uma alegria moça de ser tão honesta comigo. Sim, eu fui. o mais alto que podia esse ano. joguei-me nos mais complicados dilemas. mantive bravamente a minha decisão do afastamento tão dolorido e tão necessário para nós dois. e me deixei tocar pelos mais confusos sentimentos. conheci algumas sombras. tomei tanto chá, li tanto sobre medicina indiana que me livrei da alopatia e curei parte da alma. e finalmente ganhei a oportunidade de trazer alguém ao mundo e sem exageros foi a maior conquista desse ano.