sexta-feira, maio 29, 2009

Conversa.

Ontem você foi tão sincero. Ontem você disse a verdade, uma verdade que deveria ter me ofendido, me magoado, e eu só posso dizer como foi bom ouví-la. Aquela foi a sinceridade que sempre quis de você, sempre foi desejo maluco meu, te ouvir dizer o que te incomoda porque as vezes me canso de ficar adivinhando.

Eu queria reencontrar as boas palavras, queria poder escrever-te um dos meus melhores textos, mas não consigo, sempre que escrevo para você ou sobre você, acho que não digo tudo, acho que não disse as palavras certas e me sinto uma boba que esqueceu como se faz a coisa que mais faz na vida. Porque você me transporta, e eu sempre vou para um outro lugar quando você chega perto, aquela agonia toda de ter experiências, falar o tempo todo, estar certa, não errar, vai embora. E dá espaço para a menina-mulher "quase mansa" que quer deitar nos seus braços, sentir cheiro de pescoço encostado e rir, rir muito das suas palhaçadas, até que a vontade de chorar a dor do mundo chegue e ela sempre chega. Eu sei que sempre posso chorar ao seu lado como uma desesperada, e minutos depois morrer de rir de qualquer besteira sem que a palavra loucura seja mencionada.

E eu sinto muito por ter dito, sinto também, por não lembrar que disse que você me sufocava. Sinto mesmo, talvez eu estivesse mais uma vez muito tensa para dizer coisas que tivessem sentido. Desculpa.
Sabe, eu não seria capaz de imaginar essa relação nossa, como eu imaginei a anterior com aquele outro cara, nunca. Porque eu não seria capaz de acreditar que o amor pudesse ser isso tudo, não entendia direito cumplicidade antes de você, não achava que a liberdade poderia ir além e vai, não seria capaz de imaginar todas as surpresas e principalmente o 'propagandista'. Você não poderia existir em mim na imaginação, não seria saudável morrer vivendo um amor interno. Você é mais do que eu posso imaginar, mais do ideia para um texto, um conto, um poema, você e pra casar e ter filhos - três se o dinheiro der, e mais dois gatos - constituir família, construir coisas, não é o cara que pode ser resumido num sonho meu.
Meu homem com a estrela assinada, o melhor de mim, a minha própria alma que vai e vem pela cidade construindo e executando coisas, livre, sem dúvidas e queixas, meu lado menino que adora brincar com meu lado menina entre um afazer e outro.
Espero ainda rir muito com você, espero ainda ter conversas como a de ontem.

segunda-feira, maio 25, 2009

Insisto.

Se você me perguntar eu respondo que tenho. Tenho um monte de problemas na sacola, tá a fim de dividir comigo é?! Eu normalmente negaria, mas ando por demais desesperada para me dar esse luxo. Se quer mesmo saber ando aflita com todas as mudanças que estão para acontecer, e aquela sensação de vazio bateu a porta novamente. O seu objetivo é me ajudar?! Então tenha paciência porque teremos que separar os problemas em graus de necessidade. São muitos. Intensos problemas. Mas por favor não se assuste, fique mesmo que no fim não me ajude em nada, ainda sim fique, a sua presença já me conforta.
A vida sempre foi assim, não me importo mais, criei casca.
Não sei até que ponto sou forte. Porém devo ser muito, muito forte mesmo, pelo menos para suportar a dor dos outros sou um rocha. Tenho nesses anos sido muito útil aos que me rodeiam, não dando tanta importância aos grandes erros cometidos pela minha mãe, ignorando todos as terriveis cenas que presenciei, respeitando o direito de ser livre e se envolver com quem quiser, terminando e começando relacionamentos sem se importar muito se eu gostava ou não dos que iam embora, respeitando o direito de permanecer no erro, mesmo que isso me afetasse. Para continuar sendo justa, respeitei o direito do meu pai de não ter me querido, perdoei o seu desejo a minha morte - ou melhor não dei tanta importância-, também respeito o seu sonho maluco de construir um "haren", tento suprir a necessidade dos meus irmãos para que ele não se sinta tão responsável.
Sei que não posso ser o alicerce sozinha, sei que não há justiça nisso, sei que um dia a casa cai. Sei que eu posso não resistir. Mas insisto. Resisto, pelo menos por enquanto. Enquanto houver forças, enquanto não houver vontade de chorar.
Persisto. Insisto. Resisto.
Mas o que importa?!
"...nada é tão triste assim"

sábado, maio 23, 2009

Indigesto.

Azia. Quando penso em você é o que me dá. Eu sei que é assunto velho, que na verdade, nem verdade foi, e que ainda estou remoendo o que não houve. Também lembro que matei você num outro texto a algum tempo atrás. Quero avisar de antemão, continua morto viu?! Só que eu achei um foto sua por aqui jogada, um sentimento meu por você estava guardado do lado dela. Agora que começo a pensar que se talvez eu arrumasse o quarto com mais frequência, eu não reviveria esse tipo de coisa.
Alemanha. Lembrei outro dia quanto te contei minha vontade inexplicavél de ir lá, a sua cara, aquela possibilidade de amor toda, será que você seria capaz de me amar por causa da sua vontade de ir a Alemanha também? Faria algum sentido se isso acontecesse?!
Tudo, ainda bem, aconteceu da melhor forma, para ambos, apesar da não possibilidade de viajar no momento. Nem sei o que quero dizer com isso tudo, onde quero chegar, que diálogo eu penso que posso estabelecer com o menino mudo. Calado sempre.
Ele falou um dia, eu lembro, me disse o que eu queria, um não.

quinta-feira, maio 21, 2009

Insegurança.

Sinto que é como se uma plantinha, uma plantinha muito especial que libera mais oxigênio que as outras, que é mais bonita que as outras, mais cheirosa, só que infelizmente é mais fraca também, fosse de minha responsabilidade. Sendo assim, todo cuidado é pouco. E como eu tenho cuidado. Respeito o espaço dela, os horários de colocar água e expor ao sol, a protejo do sol forte, da chuva pesada e, ainda sim, a vejo muchinha, triste, e fico muito assustada, como será se um dia todos os meus esforços não adiantarem?! Se um dia ela se for de vez?! Tenho muito medo dessa coisa de ir de vez, do fim, do não existir mais.
Coitada, é só uma plantinha frágil, que só tem a mim preocupada com ela, cuidadora dela, e eu não cuido bem nem de mim, e eu que não tenho disciplina para nada, faço das tripas coração para lembrar de não esquecer nada que a minha plantinha querida necessite.
Mas eu não sou suficiente para ela, ela sempre precisa de mais, quer mais, e eu lembro do pequeno príncipe, e eu me espelho nele. Como ela é frágil, como eu finjo não ser. Eu sei que ela e eu precisamos de mais uma porção de coisas, cada uma com as suas necessidades, e eu não posso fazer mais do que já faço, que já não tenho forças para carregar mais terra para adubá-la, nem tenho como arrumar um vaso maior, mais confortavél, não posso. Não tenho forças nem pra mim, nem para me livrar das minhas próprias pragas, entende? Sou alguém que precisa se desfazer desse compromisso de manter essa plantinha tão especial.

quarta-feira, maio 13, 2009

Não há talvez...

"Que bom, ai, que bom, que nunca vai haver talvez
Pra quem tudo na vida sentiu, disse e fez
Prefiro ficar só com a minha ilusão
Que matar a esperança de amar no meu coração"*

A manuh me pediu para ouvir essa música. Que bom! Ela me disse muito viu? Linda mesmo e com o cazuza cantando junto ficou uma coisa. É pelo nós, pelo que nós somos que posto ela aqui hoje.
Para a gente sempre lembrar que vale a pena.

*(ângela Rô Rô - Não há cabeça)

segunda-feira, maio 11, 2009

Comemorando o aniversário da irmã distante.

Quando a gente se conheceu não senti que aquela seria uma das mais importantes relações da minha vida. Os sinos não tocaram, o sol não brilhou diferente, nos conhecemos no banheiro.
No banheiro feminino da Escola técnica onde ambas estudavam, eu caloura, ela já concluindo o 3º ano. Conversa de banheiro mesmo, não era para dar em nada.
Essas entregas...
E a conversa foi rendendo, de repente eu já era o bicho dela (bicho: como se chama calouro por aqui), e coisas em comum vieram a tona, diferenças também. Ela era da Igreja Batista desde de pequenininha e eu não consiga acreditar muito que deus podia ter alguma coisa haver com a minha vida. Eu era filha de pais separados e era cheia de problemas familiares insolucionáveis, ela tinha uma família bastante acolhedora e unida que respeitava diferenças.
Com o tempo fomos dividindo estórias, vivencias, roupas, lanches, brincos, segredos e tudo que dava para tirar de mim e colocar nela e vice-e-versa. Choramos juntas de tristeza muitas vezes, morremos de rir até chorar juntas idem, passamos a noite em claro com medo juntas um dia. Durmimos tantas outras vezes juntas... E viramos irmãs. Num processo muito lendo de aceitação e respeito ao outro, e como ela era difícil. Mimada! E eu também não era fácil não, já dizia minha mãe. Ainda sim conseguimos transpor as diferenças, e as pessoas até ousavam confundir a gente de tão parecidas que nós tinhamos ficado. Não uma imitando a outra, isso não, era uma internalizando a outra. Gestos, expressões, caras e bocas, roupas, estilos.
Porque era fácil viver quando eu era um pouco ela, porque ela gostava de ser um pouco de mim.
Brigamos claro, muitas vezes. Por comida, por atitudes, por amigos, por ciúmes e manias, mas no fim sempre conseguimos voltar ao nós felizes-para-sempre.
A Isa, minha irmã de alma, me fez estudar política, a Isa me emprestou o pai dela pr'eu guardar para mim como se fosse meu para sempre. Ela divide até hoje os pais comigo, e a gente nem lembra mais quando eles me adotaram. Porque foi a família da Isa que tomou conta de mim quando eu estava doente, foi a família da Isa que deu sentido a palavra família para mim.
Hoje vivo sem a minha irmã viajante, um dia após o outro, que já nem lembro mais das nossas brigas mais sérias, só sinto uma saudade enorme. Sei que cada um vai para onde o mundo chama, sei que para ela ir foi a realização de um sonho, sei que doí em mim tanto quando doí nela. Hoje é o aniversário dela e eu não posso dar um abraço.

Esse amor que ela me ajudou a construir que é tão grande, tão intenso, faz de mim uma pessoa melhor, me faz querer ser uma pessoa melhor, pelo que fomos, pelo que somos. Principalmente, pela família que temos.

Feliz aniversário irmã...

quinta-feira, maio 07, 2009

A morte do patinho feio

Um vez me apaixonei por um cara. Um amigo em comum de um bando de amigos meus, numa festa, sendo mais exata num show. E olha que comigo isso aconteceu tantas vezes, mas dessa vez teve consequências.
Ele era bonito, tá bom esquisito (meu padrão de beleza), ele era sério (outro motivo), calado (interessante, enigimático). E aos poucos, alguns dias pensando sobre, como seria bom apaixonar-me de novo, que já era tempo, consegui sozinha convencer-me que era o cara e o momento certo.
Joguei-me num precipício. Já não dava mais para voltar, já tinha imaginado momentos bons demais com ele. Tolinha. Coitada, não tinha vivido nenhum.
Para encurtar a história, claro que a gente ficou junto algum tempo, claro que houveram momentos bons, claro que eu inventei tantos outros, retive como verdade e me apaixonei ainda mais como só eu sou capaz de fazer. Entrei de cabeça, sem medo da profundidade que a joça tinha, sem vestir roupa de banho, sem tirar os sapatos, sem estar preparada.
E foi a minha época mais deplorável. Quando a gente tem pena da gente, é osso. Eu sabia que não valia a pena, sabia que era dar para quem não quer receber, mas ainda sim eu dava, com todas as forças, com tudo que eu era capaz de dar. Entregas... Quis fazer dar certo. E no fim foi o mesmo que subir numa bicicleta de olhos vendados e pedalar até o muro mais próximo.
E ele foi o cara "a mulher da minha vida" de tão dócil, mais traiçoeiro que minha gata num carinho entre as pernas dela. E para piorar consegui uma boa história que nos ligava, uma daquelas bem boas para contar pros filhos e netos. Eu já não tinha mais dúvidas. Pisava em cacos de vidro, olhando sempre para frente e pensando 'são flores, são flores'.
E o calado, disse-me coisas cruéis, e o interessante virou um patinho feio, um boneco que eu fiquei mudando de lugar para ver onde ele ficava mais bonito para mim, eu o beijava e ele não retribuia, eu o amava e ele-boneco era incapaz de me amar de volta.
Um dia eu desisti daquele amor. Um dia o devaneio acabou, e eu só queria minha casa, minha cama e jogar aquele maldito boneco no baú para sempre. Já estava na hora de parar de brincar com bonecos que não interagem.

Hoje vivo um outro amor, bem real. Hoje só lembro do boneco as vezes, só vejo o boneco as vezes sentado no colo de uma outra menina, e riu sozinha, pensando como fui infeliz com aquele boneco, como fui infeliz.
Acho que esse é o momento, sei já o ensaiei várias vezes, mas agora é como se eu o expulssasse das minhas entranhas. Não quero mais nenhum sentimento, saudosismo ou lembranças daquele boneco. Nem palavras.
Quero esquecer que um dia investi num patinho feio esperando achar um cisnei. Quero não lembrar da minha imaturidade daquela época, menininha... Hoje sei bem que aquele maldito show que acontece todo ano, que me faz reviver aquilo todos os anos, esse ano será diferente, porque tomarei uma atitude. Vou pegar aquela droga de baú onde guardei aquele cara-mentira e jogar no mar.

terça-feira, maio 05, 2009

O que não sou e o quanto sou feliz mesmo não sendo

Posso não ganhar muito bem, nem ter certeza do curso que eu quero terminar na universidade já que faço dois concumitantemente. Posso não ter ido à Alemanha como planejado, não ter mudado de cidade, não conseguir deixar o cabelo crescer, nem fazê-lo ficar liso e de uma cor só. Posso não ter formado a mulher que sonhei ser, posso não ter mudado como queria, mesmo cometendo alguns mesmos erros, mesmo amando o que não deve ser amado, querendo o que não deve ser querido. Mesmo não sendo, ainda sou. Existo. Mesmo que não realizando todos os meus sonhos de menina.
Ontem rodopiando com amigos tão amados "ao som de uma banda qualquer", tá bom, da Banda Naurea que eu já estou cansada de ouvir, eu lembrei de tudo isso, tudo que não sou, do que não fiz, do que quis e não tive. E ao mesmo tempo pensei em tudo que tenho, o que construí, o que formei, o que mudei - as vezes naturalmente, as vezes sangrando a carne-, lembrei do que não sou mais, e principalmente e esse me deu um prazer enorme: o que eu não quero ser. O que felizmente não me tornei.
Onde e como sou feliz. E como eu-nós-o-povo-todo, como somos felizes simplesmente deixando-nos ser.