segunda-feira, abril 29, 2013

Carta para a pequena Olga


Pés no chão e guria na barriga. E a vida não é mais como era antes. A moça/ mulher que peita tudo que eu sou, agora vai mais devagar para não assustar a cria. As dores, companheiras de longa data, que eu mantenho, que eu cultivei durante anos perderam parte do espaço que ocupavam em mim porque a menina é tão forte, tão decidida que ocupa quase todos os meus cantos. 
Construí essa barriga, defendi um gestação livre com unhas e dentes. Defendi meu corpo, o corpo da minha pequena e cá seguimos nós vivendo de instintos. Nós somos livres minha pequena, até onde nós podemos, nós somos. Eu caminhei por sombras e enfrentei dúvidas e temores todos os dias, porque você ainda não sabe, porém para te dar um nascimento digno eu virei gladiadora, eu comprei brigas, fechei portas, disse não, crie mais um monte de dúvidas, me abri para o que é subjetivo demais e me entreguei, só porque você merece, só porque vale a pena me entregar por um motivo tão nobre.
E eu sinto você se arrastar para luz, para a nossa luz e está cada dia mais perto o grande dia, o dia que viveremos juntas a dor de nascer e renascer, uma dor que nem eu, nem você conhece, mas quem disse que não estamos dispostas? Quem vai dizer que não estamos prontas? E quando você chegar, nem consigo imaginar o brilho que esse dia terá, o que será que vai passar na minha cabeça no minuto que você vier para os meus braços. Também não consigo imaginar nada que você possa me dizer com seus olhos e primeiros movimentos, como será alimentar você ou só acolhe-la sobre o meu ventre.
Só te prometo uma louca viagem lucida. Um milhão de tentativas de fazer o melhor, alguns muitos rodopios pela sala, uma pergunta maluca aqui e ali, uma mãe humana, uma pessoa em construção caminhando ao seu lado e disposta a ajudar você a se construir também, mas lembre-se minha pequena não há pressa, estamos aqui para aproveitar a viagem e não só para fotografar os lugares, não só para conhecer pessoas, coisas e comprar lembrancinhas. Eu estou construindo essa história há algum tempo sem você, mas quem garante que eu conheço mais? Ou que eu já aprendi o suficiente? Estou aberta, inteira, disponível para você o quanto você quiser de mim em todas as fases, porque é assim que eu sinto você em meu ventre, inteira, disponível e disposta a vir ao mundo pronta para aproveitar a viagem. Então vem Olga Martila porque eu também estou pronta e disposta a te acompanhar.

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