quinta-feira, fevereiro 05, 2009

TELA-PEÇA-BELA-DE-MUSEU

Eu queria abarcar o mundo. Eu queria ser entendida. Fazer-me entender. Mas essa fase não passa. Essa crise não passa. E eu não sei onde colocar minhas mãos. Não sei o que posso ou não tocar, a única certeza é que não devo. Tenho que completar ciclos, fechá-los. Estou num museu cheio de peças lindas, obras lindas, que eu admiro muito. Porém não posso tocar. Não posso porque é uma regra, não devo porque o segurança está olhando, não posso tocar para não danificar a peça. Aí lembro daquele quadro com um filósofo pintado que me remoeu tanto por dentro. Atingiu tanto e fico pensando: injusto. É injusto isso de não poder tocar, não poder danificar, não é vingança, não é esse o motivo. Às vezes eu só tenho uma vontade infantil de correr e dar um abraço no quadro pensando no filósofo para abarcar a dor dele. Dor que é minha também. Vontade burra de poupar os outros. Já que é uma dor tão conhecida não faz mal guardar para não incomodar. Eu quero que sangre, preciso querer sangrar em mim. no outro(s). na tela. Preciso que cicatrize para sempre. Coagule. Discutir para coagular. Quero sair correndo por esses corredores, já não consigo mais apreciar nada. Tenho que digerir um pouco dessa vontade de querer abraçar e compartilhar a dor. A minha dor é minha, não peça de museu. A sua dor é sua, você pode expor na tela ou na música que quiser. A nossa dor é nossa é bem verdade e espero que ela continue no passado, no instante que ela começou a sangrar.
Não tenho problemas com cicatrizes. Não tenho problemas com a dor. com a minha dor. O que incomoda é ver você doer. E saber que tem que doer em você também, sangrar... Danificar bem a tela, desconstruir a obra, refazer efeitos e ainda sim continuar sendo...

TELA-PEÇA-BELA-DE-MUSEU

que eu não posso, como nunca pude, não devo e não quero tocar.

estou caindo fora do museu.

"doer pra decidir"

Um comentário:

ROÍDAS E CORROÍDAS disse...

lindo meu bem! sem palavras!