quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Lendo e devorando a Leila Diniz depois de uma crise

Fechei os olhos e as mãos de cansaço, depois de conversa longa. Abri os olhos segundos depois, apontei o indicador da mão esquerda como sempre fiz, repetindo 'é assim aqui que eu sou, é assim que eu sinto', mas não esperava que não conseguiria mais abrir a mão direita naquele fim de tarde, naquela noite, no hospital, depois da injeção, da tipoia, depois de um fim de semana inteiro eu simplesmente não conseguia abrir a mão direita. Chorei gritando, tremendo, babando, gemendo encolhida até acordar o vizinho, até esquecer porque estava chorando. Dor de alma. Tenho sempre vontade de responder isso pra médica quando ela pergunta: hoje você tem dor de quê? Não digo, vai ela me interna.
Fui num outro médico porque a minha querida e compreensiva médica estava viajando, e ganhei 8 dias de gesso, morfina, analgésico, relaxante muscular e o de sempre. Médica querida de volta e o diagnóstico de mais uma crise 3 comprimidos tarja preta por dia, 1 protetor de estômago e continuar o uso do analgésico já que o estômago não anda aceitando anti-inflamatório, então são 5 remédios por dia por enquanto. Só pude mexer mesmo a mão novamente na segunda uma semana depois daquela piscada de olho e do movimento quase involuntário de fechar a mão.
Não soube o que dizer para mim para confortar, não consegui aceitar bem o início da crise ando sonolenta (crise de fibromialgia dá fadiga né?)e cheia de lágrimas espontâneas. Estou com aquele sentimento novamente de não pertencimento, rodeada de amigos e só com os meus pensamentos. Pirei no dia que tirei o gesso, andei pela cidade, almocei comida que eu adoro, comprei o livro que eu estava louca de vontade de ler e pensei pensei pensei pensei até me perder de mim.
Leila Diniz é sobre quem eu estou lendo, foi onde eu me encontrei e onde eu pretendo me perder. Sempre admirei mulheres fortes e sinceras, mas essa me faz chorar só de pensar em tanta alma. E está sendo tão confortante chorar pela alma da Leila e não pela minha dor na alma porque por causa da minha dor eu já chorei demais, pela minha dor não adianta chorar. Deixa que 5 remédios diários tomam conta, acalentam, me calam.
Tendo a Leila eu me tenho. Sei que não é claro isso, porém, essas coisas de identificação não se explicam. Posso abrir a mão agora mesmo que ainda trema e doa onde não dá nem pra explicar onde sente, vi na tv uma senhora com o braço direito também com hematoma, porque ela foi tirada da casa dela em Pinheirinho pelo braço, de uma hora pra outra, ela perdeu a casa, a vida que viveu lá, o amanhã, assim como eu quando fechei e não abri a mão. O hematoma vai se desfazer, a minha mão já abriu, mas e a casa, a vida e o amanhã dela, quem devolve?
Eu não sei se suporto dor de mundo e dor alma juntas, não sei o quão sou forte, ou má, ou boa só sei que agora doí sentir tudo ao mesmo tempo, doí continuar escrevendo porque os dedos ainda estão fracos, doí querer escrever um artigo acadêmico sobre ativismo individual agora que larguei a universidade, doí ler tanto e com tanto prazer e saber que a universidade me tomou isso por um tempo. O que mais que eu deixei passar porque eu não pude ser ativa? Não sei quem eu sou enquanto definição, só sei que isso vai me levar além, foi o Leminski que disse e não é mentira.

2 comentários:

Aurea Maria disse...
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