domingo, agosto 14, 2011

Quase boa. Quase inteira. Quase sã.


Não lembro o dia que não senti dor, depois daquela primeira dor há 9 anos atrás. Não lembro de me sentir inteira por mais de um dia na vida e só aceitei a ideia de ser sã, quando entendi, que isso significava estar distante da máxima do ser normal, porém também não me sinto sã por muito tempo.
Pode-se dizer que sou um quase. Quase um erro para os meus pais, quase uma dor desconhecida para os meus médicos, quase um amor para os meus amigos-irmãos e quase uma mulher para o Dito (marido).
Não entendo nada no mundo. As vezes, sinto que exitem tantas pessoas, tantas certezas, tantas razões que desconheço, que eu não faço parte e por isso decido desbravar antes de fazer planos no desconhecido. Vivo de dias de descoberta e cansaço. Medos e alegrias constantes. E percebo que não dou conta, das pessoas, das certezas e de tantas razões. Que o lógico mesmo seria sentar numa cadeira de vime do lado do portão da casa que foi do meu avô e só observar o tempo passar, as pessoas e as nuvens passarem, e aceitar que eu só conhecerei as pessoas, as certezas e as razões que atravessarem meu caminho e que não é inteligente almejar nada além disso.
A dor para mim é um costume. As vezes me percebo tão imersa nas coisas da vida e atenta aos meus afazeres, que acabo nem sentindo a sua latência, acho estranho sento por dois minutos, diminuo meus movimentos, chamo a minha atenção, calo o meu corpo e lá está a dor caladinha como a minha gata quando chego em casa e a pego dormindo na minha cama, caladinha esperando que eu volte a minha atenção para ela para voltar a existir. E juntas continuarmos na nossa estrada da coexistência.
Tenho um sentimento engraçado cá dentro do peito, complicado de confessar, atrelado a uma certa vergonha de existir. Mas é preciso, é preciso me despir deste tecido puído que me recobre, é preciso tecer um novo manto. Não sou ainda o que gostaria de ser nessa vida, entenda-me, também não pergunte o que eu quero nessa vida, porque eu não sei. Só tenho a certeza de que há algo em mim que quer ser outra coisa, e não precisa ser maior ou menor que o que sou atualmente só de me tornar algo que acalme meu espírito já basta. São anseios de todos os tipos, profissionais, pessoais, femininos e artísticos. Então não há satisfação completa com tantas coisas em suspenso.
Não pretendo ser previsível, normal, aceitável. Assim como acredito que não sou exemplo para ninguém. Minha mente é o meu inferno e o meu céu. É onde eu existo plenamente e sem máscaras, é em mim o lugar mais inseguro para se estar e onde eu passo a maior parte do meu tempo.
Não sou um conceito. Não sou um definição. Sou um quase. Sou um talvez. Um alguém que acha que é maior do que realmente é, um ser sem paz, uma criatura que não sabe nenhuma das respostas das muitas perguntas que faz. Uma louca vivendo como se ninguém notasse que no fundo ela não pertence e não fica bem em lugar nenhum. Está mais para um filme feito para televisão que nunca passará no cinema, um texto de verso de página de um escritor iniciante que nunca será inserido num livro, um esboço de um dos primeiros desenhos de um cartunista perfeccionista que nunca o terminará.

*imagem arquivo pessoal.

2 comentários:

Manuh das Oliveiras disse...

sonhei contigo essa ultima noite, sonho triste...real demais, triste demais...
sua ausência dói.

Anônimo disse...

Mas existe alguém, com jeito meio bobo, meio inteligente, meio sensível e meio manipulado que entende seu olhar quando você diz uma coisa mas na verdade queria muito dizer outra, aliás,dizer não... xingar na cara, dar uns tapas e fazer o mundo acordar. Ter alguma certeza nesse mundo dá muito medo, mas eu te conheço um pouco, sei que você vai encontrar a única certeza que você precisa pra ter mais paz.