sexta-feira, julho 23, 2010

Me aqueça. Me vira de ponta-cabeça...*


"Eu não quero ter vergonha de nada que eu seja capaz de sentir."*

Há algum tempo atrás compramos juntos um casaco pra mim. Adorávamos ir juntos comprar qualquer coisa. Andar, discutir, conversar, resolver... lembro que no mesmo dia eu passei 40 minutos tentando convencer-te que eu merecia aquele par de "pantufas arco-irís de cano-alto" para combinar com o meu jeito desleixado de rodar pela casa a noite por causa da insônia. Depois o chopp e o papo descompromissado de fim de tarde, e nenhum indício que aquela seria uma das nossas últimas conversas... Sinto tanta falta de ver-te, de conversar sobre qualquer coisa. Tenho recebido umas ligações desconhecidas, não dizem nada, seria tão bom se fosse você do outro lado da linha, se do nada falasse como se não houvesse todo esse tempo e distância entre nós. Porque para as minhas lembranças esse tempo realmente não há.
Mesmo que todos digam que acabou. Que não há mais a amizade de antes, que não faz sentido esperar, sabe, eu ainda espero, espero que o interfone toque avisando que você está na portaria e veio me fazer uma surpresa, mesmo que eu saiba que você não sabe meu novo endereço. Na verdade você ignora esse meu novo endereço, essa minha nova vida.
Eu espero um email longo contando novidades, mesmo que eu também saiba que você não é muito dado a emails e conversas virtuais. Eu fico esperando de você coisas que eu sei que não virão, é porque eu já cansei das suas obviedades, do seu "eu previssível" e queria tanto conhecer um novo você cheio de vontade de mim, quase como o você de antes o da compra do casaco, da discussão das pantufas, do chopp, o você que eu deixei dormindo num colchão no chão da casa da Manuh depois daquela noite de Rua da cultura.
Que aquele casaco não significa um adeus, um acalento concreto, um não a amizade que tinhamos, que não existam significados velados.


*Rita Lee
*Caio Fernando Abreu

quinta-feira, julho 01, 2010

Os caminhos são individuais/ intransferíveis*

Comecei a pensar no início dessa semana, nessas dependências que a gente acha que tem, e na imaturidade de agarrar-se a elas. De como é simples colocar a culpa no "companheiro do lado" por uma decisão errada, por um arrependimento, por um não, por um sim entre dentes, por um mundo desabando e todas aquelas vezes que a gente só quer sair correndo sentar debaixo da mesa e chorar, pequenininha segurando os joelhos. Se eximir da culpa não é compartilhar.
Com o nosso companheiro a gente dividi os dias, os acontecimentos, as histórias, as coisas simples, um conselho, uma decisão tomada, uma opinião. Porém no fim, quando é sobre o nosso íntimo, sobre o que somos o caminho escolhido é ,apesar de muita conversar sobre (com qualquer pessoa), uma decisão só nossa. Tem que ser só nossa. E isso também deve acontecer com o nosso companheiro, com nossos pais e amigos.
Eu amo muito quem me acompanha. E isso não é uma novidade, mas só isso não diz tudo que ele representa para mim. Outro dia num fim de tarde tive vontade de ligar para ele para declarar-me diferente, eu queria ligar e só dizer: Eu te respeito muito! Assim sem grandes explicações, sem mais... Aquilo de respeitá-lo era tão sagrado pra mim, tão nobre e bonito.
Eu o respeito muito, essa é uma grande verdade. Respeito o sentimento que ele tem por mim sem exigências e metas, o caminho que ele segue para formar o ser que ele quer ser, construindo-se dia após dia, as suas vontades e desejos porque eles também fazer parte da pessoa que ele é, os seus planos individuais e os que ele divide comigo, suas preferências, seu caráter e sua ideologia. É só assim, entendendo que respeito tudo isso e outro tanto de coisas, que consigo dizer o "Amo'cê" diário com o coração livre de dúvidas e em sua completude de razões.
Amar por amar, todo mundo ama (diz que ama), porém, será que todo mundo respeita o outro e quem ele é? Será que me respeitam?
Só posso falar de mim e eu exercito todos os dias o meu respeito ao próximo. Principalmente aos muito próximos.

*Caio Fernando Abreu