quarta-feira, outubro 27, 2010

Como se grita?

Eu esqueci como se grita. Estou tentando desde o início desse dia atípico, onde estou só eu e minha querida filha felina em casa com o maridão viajando a trabalho, tentando gritar sem motivo o que não faço há um tempo. Eu gritava de alegria, de raiva, de dor, de amor, de ódio, de amoreódio, não aquele grito nojento de ataque de narcisismo, não, era aquele grito de delírio onde nenhuma palavra cai bem só o grito. E eu estou tentando gritar, um misto de sentimentos que estão aqui guardados. Quero gritar de alegria porque mesmo odiando dormir sozinha e com todas os devaneios sobre casas silenciosas estou conseguindo dormir sozinha e segura, sem neuras, sem medos. Gritar também de raiva pelo que foi e não é mais, pela amigo-amor que foi de vez, dessa vez pra nunca mais e com todas as decepções possíveis de brinde no combo. Gritar a paz que eu estou sentindo por finalmente ter me encontrado no meu novo trabalho, por estar gostando da adrenalina que é prestar serviço lá. Assim como adoraria gritar o meu inferno astral por não aguentar mais o meu antigo emprego de meio período que se estende até hoje por medo de virar a página e encarar o incerto e tomar decisões.
GRITAR, Gritar a vida, e todas as realizações desse ano, tudo o que aprendi e que está sendo decisivo nessa minha nova crise de dores-fortes-diárias-insuportaveis. Gritar essa dor que não passa, que não decide onde fica, e que não diz ao que veio. Gritar o meu novo jeito de encará-la com menos lágrimas e mais concentração. A resposta está in não out. E é só minha. Só eu preciso aprender a domá-la, aceitá-la e quando puder mandá-la para longe de vez. A dor sempre vem pra gente lembrar da força que há dentro de nós. Do que somos capazes de suportar e das coisas mais secretas, dos traumas mais poderosos que ainda possuímos.
Eu voltei a viver com a dor diárias de antes. Estou no meio de uma crise dela. Só que mais sábia, mais forte e com mais controle sobre o meu corpo e isso já é por si só um grande feito. Não há cura, e dessa vez sem alopatia e fugas, a dor será vivida, combatida e aniquilada um dia por vez.

Um comentário:

ROÍDAS E CORROÍDAS disse...

Vamos GRITAR juntos? Principalmente pelo amor-amigo que já se foi definitivamente?

saudades!