sexta-feira, outubro 23, 2009

Adulta? Não, nunca.

As vezes acho que sou bastante forte, bancando a adulta a tanto tempo, acabo acreditando que sou esse ser elevado, esse "adulto" que tinha que ser um dia... Mas alguns segundos depois eu vejo um passarinho passar por mim tão livre, e isso me dá uma alegria imensa que parece que vai começar a transbordar, ligo o mp3 e ouço aquela música que sempre faz passa filminho na minha cabeça e eu acabo fazendo caras e bocas enquanto pedalo e todo mundo me olha, quando chego em casa e a gata me recebe na porta toda dengosa e cheia de carinho eu sento no chão para retribuir. E é assim que todo dia desfaço a certeza que sou esse ser elevado "adulto".
Porque eu sou tão pathos, porque eu sou tão louca por gente e palavras que nunca vou conseguir me distânciar o suficiente. E sinceramente nem quero.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Bem no fundo*

no fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas

*Paulo Leminski

sexta-feira, outubro 02, 2009

Como você me doí vezemquando*

Sempre tive uma grande admiração por você, e não é difícil admirar você por tantos motivos. Sempre tive a certeza que o queria sempre perto, e fomos amigos próximos durante muitos anos. Um dia você me contou, depois de me fazer perder uns 3 ônibus para casa que você tinha se apaixonado por mim, e eu nunca tinha visto você tão desajeitado, tão sem palavras. E eu fiquei tão emocionada, apesar de já saber depois de uma fofoquinha amiga, mas ouvir de você deu um tom de verdade àquela dúvida.
Eu já tinha pensado na possibilidade de querer você, e eu mesma me convenci muito tempo antes da descoberta que eu era caótica e louca demais para alguém como você. Eu achava mesmo que tinha que rolar na lama dos poços que me ofereciam como possibilidade de amor pra achar alguém, eu achava que o meu caos só seria feliz quando se juntasse a um caos tão caótico quanto o meu. Mas eu me enganei.
Depois de muitas conversas, paciência e companheirismo, eu cedi, decidi tentar e estamos juntos desde de então, e esse mês faremos quatro anos. Quatro anos de amor, e porque não dizer quatro anos de luta. Pra mim, por muito tempo, você foi uma causa que valia a pena. Foi tão difícil ser inserida na sua vida, ser conhecida pela sua família tão comercial de margarina. E nela nunca fui aceita.
Hoje sou sua segunda família. Hoje moramos juntos e temos uma filha felina que nos dá muita felicidade. Depois de muita confusão pra você sair de casa e tentar a vida comigo, a ovelha negra.

É muito bom saber que você vai chegar em casa depois das sete, coisa boba né? Mas é sério, como a raposa do Pequeno Príncipe, eu começo a ficar feliz as seis da tarde só por saber que as sete você vem.
Mesmo nesse momento tão estranho que eu ando vivendo, mesmo você não entendendo nenhuma das minhas cobranças. meus medos ou atitudes. Eu queria dizer que hoje as 4 da tarde eu já fiquei feliz por saber que as sete estaremos em casa juntos. E mesmo com as minhas "brigas-monólogos que fazem todo o sentido pra mim e nenhuma lógica pra você", saiba que eu te amo desde que aceitei dividir esse sentimento com você, desde que deixei você entrar e habitar meu coração que vivia repleto de lama dos antigos poços.

Infelizmente estou tentando te dizer que ando infeliz, que você não tem me ouvido como eu queria, me querido como eu queria, me vivenciando como antes, e aguardo aquela conversa que só verdadeiros amigos-amores podem ter. Só não demora viu?


* Caio Fernando Abreu, Harriet.