segunda-feira, abril 30, 2012

No meu jardim-presente que já foi muito ignorado.

Estou podando meu jardim 
Estou cuidando bem de mim*

Acredito no agora com mais força
Consigo ver o agora como ele é
um presente que eu recebo para viver
e  não há idiotice maior do que ignorar isso.
E eu ignorava
Não queria ver.
Estava ligada ao passado,
 aos meus ressentimentos,
as lembranças ruins...
Tenho me policiado me ensinado a lidar com isso de outra forma.
Não quero o futuro hoje porque estou vivendo o presente que ganhei.
Não viverei de passado ignorando o meu presente porque não quero mais.
A consequência da decisão,
o querer respeitado e defendido.
O hoje que me apaixona e me refaz.
O que cabe na minha mão
e o que eu não carrego mais.
Vazia de expectativas inúteis feliz por isso.
Sentindo e vendo só o que divide comigo o agora
Querendo internalizar o tal bambu que ouvi por aí
que balança com o vento forte, que se entorta,
mas quando o ambiente descansa volta a estar de pé contemplando o sol.

Sem fugas
Sem apego
Sem ansiedade (tentando)
Sem excessos assim me misturo com o cotidiano
ouço mais vejo mais aprendo mais e vivo melhor.
Estou aprendendo, sem correria, eu chego lá.

*Meu Jardim, Vander Lee

segunda-feira, abril 09, 2012

Eu e Portinari

Você não percebe mas eu sou muito só - não sozinha, porque sim eu tenho muita, muita gente mesmo ao redor - não é sobre a solidão física que estou me referindo é sobre o que há dentro. Não existiram muitas pessoas que foram fundo, por causa de mim, por causa delas. Não sei, é que eu tenho umas cercas a mais, e critérios de quem pode ou não passar por essa ou por aquela cerca é um jeito de administrar a coisa não julgue. É que se eu fosse sem trancas não seria seguro.
Eu entro nas pessoas, é estranho isso, eu realmente entro nas pessoas, porém não é todo mundo que eu deixo entrar porque as pessoas podem me machucar, porque eu posso machucar as pessoas com o que há aqui dentro. Não tenho como me defender de mim, assim como me guardar é a única forma de proteger os outros da minha tristeza, que quase nunca se mostra. Que vive escondida no canto de um riso solto, de chistes e que reside em uma ou duas frases secas e cruel quando alguém me pede um pouquinho de realidade. É que eu não poderia ter vivido tudo e continuar a mesma meninoca que adora o colo do avô, porque nem o meu avô existe mais. Imagine uma exposição de um artista desconhecido que não assina seus quadros, imagine um galeria com quadros amontoados - quando eu penso nos meu sentimentos lembro dos quadros do Portinari, pois sim - são como os quadros do Portinari sobre a seca, são crus, são doloridos de tão reais que são, estão amontoados e também não estão organizados por tema ou estilo, são os quadros que contam sobre o que passei e nada foi esquecido, está tudo lá. Cada dor, cada despedida, cada escolha. Minha. Dos outros. E as vezes sabe, apago a luz da galeria e deixo de ver, e até parece por alguns dias que estes quadros nem existem, mas a vida me obriga a acender a luz para lembrar que está é minha história e não pode ser esquecida.
Não tenho vergonha dos meus quadros, claro que por muitos anos tive medo deles - como quando conheci Portinari e fiquei com medo dos rostos da seca - mas eu cresci e não tenho mais medo. Tem alguns que eu até tenho uma afeto maior, que quietinha sento a sua frente, fecho os olhos e medito e consigo vivê-los novamente. Porque eu acabei criando afeto por algumas dores, e não se larga afetos da infância. Como não dá também pra se desfazer de pai e mãe. Do sangue. Fisicamente sou esta, não posso ser outra e nem quero ser. Do meu passado sobraram estes quadros que são coleção particular. Fui eu, foi o jeito que eu achei de sobreviver. Quem sou hoje? Não importa. Porque o presente é um caminho que estou percorrendo, são outras escolhas e outras revelações. Sei que ainda ei de pintar tantos outros quadros, felizes ou não. O que eu não posso mesmo é me afastar do real.
E hoje eu lembrei de quando eu deitava e via estes quadros no telhado da casa da minha mãe. No meu antigo quarto onde eu deixei alguns quadros que eu nunca mais quero ver.

quinta-feira, abril 05, 2012

É. Estou em processo.

Fiz bagunça, dentro e fora de mim. Tirei livros, discos, dvds, roupas do lugar. Fiquei com tanta dor no pé (por dentro, por fora) que passei uma semana sem colocá-lo no chão novamente. Eu sai do chão por alguns dias. Quis organizar as coisas e acabei bagunçando ainda mais, porque não era a hora de colocar as coisas no lugar. Meditei, me amei de dentro pra fora. Me permiti chorar e não precisei, não é que as lágrimas acabaram, ou eu tenha perdido a esperança, é que eu não preciso chorar porque tenho me revelado de uma maneira muito generosa comigo mesma. Tenho me doado a esse encontro, acreditado nele e respeitado seus caminhos, só sigo, não questiono como antes. É doar. E é uma doação diferente, é doar-se para mim. É respeitar os meus momentos, o meu tempo, os meus silêncios, os meus gritos. É ouvir a mim em primeiro lugar. Agora de fato no primeiro lugar. Porque EU me dei esse direito.