sexta-feira, dezembro 23, 2011

O medo de amar é o medo de ser livre* ou Para uma avenca que ainda vai partir

Não que exista algo normal entre nós, longe disso. Mas por esses dias vamos conversar e romper, você ainda não sabe, eu tenho adiado o dia, prolongado as horas e ignorado o inevitável. A gente vai ter que acabar.
O quê? Não me faça por favor perguntas difíceis. Eu também não sei exatamente o que temos. Por quê? Eu até sei sabe, mas isso é papo de horas inteiras reunidas em noite longa e nós não devemos mexer nisso. Vai ser lindo você vai ver, colocaremos um ponto final depois de umas meias verdades, algumas lágrimas e abraços, eu pretendo posicionar esse ponto atrás de uma palavra bem bonita que dê a dimensão do que estamos acabando e de como acabaremos. Mas eu ainda não sei. Estou tentando ver a situação de cima, tentando não procura desculpas ou respostas, pretendo te encontrar num lugar legal, falar de amenidades e depois de alguns silêncios começar mesmo que sem sentido com um 'não quero mais, isso que a gente é, isso que a gente tem que eu não sei definir e tão pouco explicar, não quero mais essa amizade confusa e cheia de sentimentos revirados, eu não posso mais desculpa' seguido de acabou. Esse a gente construído por sentimentos e lágrimas não vai mais existir a partir de hoje. Esse é o grande dia diz tudo, ou se preferir diz nada e só divide o teu silêncio comigo, as minhas lágrimas.
Tenho medo, estou de luto há dias, veio junto com a ideia do ponto final. Fico pensando nas coisas que a gente adora dividir, como elas vão ficar?
Não vai ser fácil porque você sabe né, foram tantas conversas, brigas, músicas, livros, filmes, noites, madrugadas, loucuras, intervalos, praias, almoços, jantares... Foi uma vida mesmo, a vida que existia quando a gente largava a vida de sempre e virava a gente. E que a gente lindo nós fomos, bonito de ver, gostoso de recordar. Mas acabou.
Porque eu preciso. porque você idem. Cortar o laço e ver como a gente funciona efetivamente separado. O amor? Redimensiona. A saudade? se aprende a viver com ela. Só sei que não dá mais para viver em prestações. Não dá pra sangrar junto, nem separado, e o pior, ver o outro sangrar. Não dá, para fingir que é sem importância, que eu não sei que muito é omissão, quando não é mentira. Sentimentos meus. Sentimentos seus. Nossos.
Pode deixar que quando a saudade bater vou cantarolar aquela música baixinho como sempre. Que o que compramos junto, vimos juntos, o que oferecemos ou recebemos do outro vira guardado, lembrança palpável, pelo menos para mim.
Claro que vai doer, que vai demorar pra digerir, engolir e parar de ruminar. A gente é muito um do outro pra simplesmente deixar de ser. Algumas coisas na vida são inexplicáveis, a gente é uma dessas coisas só isso.
Foi mesmo muito importante manter essa coisa que tivemos, que foi tão camaleônica ao longo dos anos. Aprendi muito sobre mim vendo você seguir a sua vida. Cresci nos seus palpites de como fazer melhor do que você, ri horrores da passionalidade de sempre, odeie muitos dos nossos intervalos, quis matar, quis morrer um milhão de vezes mas passou e daqui há alguns dias será lembrança. Passado gostoso de rememorar sentada balançando na rede em tarde quente. Página virada e daqui para frente livro em branco, uma nova caixa de giz, pincel e aquarela, página em branco para desenho livre, poema torto.
Tenho que tirar essa amizade que fura a carne e vive de entranhas das minhas costelas, preciso de espaço pro meu pulmão, de mais um pouquinho de ar. Preciso ver como eu existo sem você e esse elo, preciso te presentear com essa oportunidade também. Estou tentando enfrentar os meus dragões de olhos abertos, sei que vai doer muito, algo beirando o insuportável, mas é que eu quero saber como é não ter os dedos entrelaçados como os nossos. Quero um amor-amigo de caber no peito e esse não cabe mais.
Amo principalmente porque coexiste.

*Música de Beto Guedes.